Os dados sobre a crise dos insetos polinizadores são inconsistentes ou não existem, lamentam especialistas europeus. Extinção das abelhas ameaça a reprodução de muitas espécies vegetais
Além disso, cidades, regiões e empresas não estão esperando imposições de governos centrais. Cerca de 7.000 cidades de 133 países, 245 regiões de 42 países e 6.000 empresas com receita de pelo menos 36 trilhões de dólares se comprometeram a reduzir as emissões.
Tudo isso é um progresso importante, mas não chega perto do suficiente, segundo o documento. Os países devem pelo menos triplicar o nível de ambição refletido em suas promessas climáticas sob o Acordo de Paris para alcançar a meta de um aquecimento abaixo de 2°C. Eles devem aumentar a ambição pelo menos cinco vezes para a meta de 1,5 °C.
O mundo parece ter passado a última década fazendo exatamente o oposto do que deveria. Apesar dos avisos dos relatórios anuais, as emissões de gases de efeito estufa cresceram a uma média de 1,6% ao ano entre 2008 e 2017. De fato, essas emissões são agora quase exatamente o que os primeiros relatórios projetavam para 2020 se o mundo não alterasse seus modelos de crescimento insustentáveis e poluentes.
Mas por trás das manchetes sombrias, uma mensagem diferente emerge do resumo de dez anos — uma de oportunidade. “A última década não trouxe a queda nas emissões de gases de efeito estufa que queríamos, isso é verdade. Mas, de várias maneiras, estamos em um lugar melhor do que há dez anos”, afirmou a diretora-executiva da ONU Meio Ambiente, Inger Andersen.
A tecnologia para reduzir de forma rápida e econômica as emissões também melhorou significativamente. A energia renovável é um exemplo perfeito. Crescimento explosivo significa que a energia limpa evitou a emissão de aproximadamente 2 bilhões de toneladas de dióxido de carbono em 2017, pois forneceu cerca de 12% do suprimento global de eletricidade. A instalação de tecnologias agora está mais barata do que nunca. Esperamos que cada vez mais o progresso continue a se desenvolver cada vez mais de maneira sustentável.
Para muitas plantas, as abelhas são o equivalente ao sexo animal. Graças a seu corpo coberto de pelos, transportam facilmente o pólen das partes masculinas de uma flor para as partes femininas, sejam da mesma planta ou de outras, afastadas. É assim que acontece a reprodução de muitas espécies vegetais, como o morango, cujo fruto exige pelo menos 21 visitas de abelhas para ser grande e saboroso, segundo os cálculos das Nações Unidas. As abelhas não são os únicos insetos polinizadores, mas são vitais em culturas como alfafa, amêndoas, pepinos e morangos.
A União Europeia está preocupada. Nos últimos anos, diferentes estudos científicos afirmaram o declínio das abelhas, assediadas por uma multidão de ameaças: a destruição de seu habitat, o uso abusivo de alguns pesticidas hoje proibidos temporariamente na UE, a invasora vespa asiática que ataca as colmeias, o ácaro Varroa que chupa seus líquidos internos, o parasita Nosema apis que afeta seu aparelho digestivo, a mudança climática. E o principal problema é que se desconhece o que realmente está ocorrendo. Faltam dados.
“Nosso objetivo é reunir os apicultores, os agricultores, a indústria, os cientistas, os especialistas em avaliação de riscos, os cidadãos e os políticos para estudar como melhorar a coleta de dados para avaliar de forma mais realista o estado de saúde das abelhas na Europa”, declarou ontem o veterinário Simon More, do University College de Dublin, na Irlanda.
A reunião representa uma tentativa de iluminar um setor frequentemente obscuro em função do conflito de interesses. A mensagem é clara: é preciso coletar muito mais dados sobre o que se está coletando e, sobretudo, compartilhá-los.
O alemão Walter Haefeker, presidente da Associação Europeia de Apicultores Profissionais, ficou encarregado de colocar os pés dos espectadores no chão. “Os apicultores precisam de privacidade”, defendeu. Sua organização defende oferecer “dados anônimos” ou “cifrados, com o código nas mãos do apicultor”. Divulgar um problema nas colmeias de uma empresa pode arruinar seu negócio.
O zoólogo Miguel Angel Miranda, da Universidade das Ilhas Baleares, destaca outro problema: a abundância de “apicultores de fim de semana”. Na Espanha, há 24.755 apicultores, dos quais apenas 19% são profissionais, segundo as cifras do Ministério da Agricultura. Isso pode fazer com que, segundo Miranda, os tratamentos das abelhas sejam mal aplicados em muitas colmeias, gerando resistência contra as doenças.
Laszlo Kuster, da Direção Geral de Segurança Alimentar da Comissão Europeia, detalhou a magnitude do desafio. Kuster recordou os recentes resultados do primeiro programa de vigilância da mortalidade de colônias de abelhas melíferas em 17 países da UE. O projeto, batizado Epilobee, analisou 176.860 colônias com uma metodologia estabelecida, mas inclusive nessas condições muitos dos dados não foram registrados de maneira harmônica. “Inclusive com a melhor preparação, os dados são insuficientes”, lamentou Kuster.
Os resultados da Epilobee no inverno de 2013-2014 demonstraram mortalidades de 5% na Espanha, 14% na França e 15% na Suécia. Um ano antes, com um inverno mais longo e frio, a mortalidade chegou a 10%, 14% e 29%, respectivamente. De qualquer forma, são porcentagens distantes dos números alarmantes apresentados por algumas organizações ecológicas, apesar da enorme quantidade de dados continuar sendo estudada.
Os inspetores da Epilobee registraram as práticas apícolas em cada colmeia, anotaram as manifestações clínicas de doenças infecciosas e parasitárias e coletaram amostras para análise, mas se concentraram nas abelhas domésticas. Na Europa há apenas uma espécie de abelha doméstica, mas existem 1.884 espécies silvestres.
O biólogo e cientista da computação Arthur Thomas chegou ao mundo das abelhas há alguns meses. Thomas, do Instituto de Internet de Oxford, é um especialista em elaborar modelos preditivos sobre o comportamento futuro de diferentes populações de seres vivos. Não tinha “a menor ideia” da complexidade dos problemas enfrentados pelas abelhas, mas sua surpresa veio de outro lado. “A disponibilidade de dados é surpreendentemente escassa. Inclusive no âmbito nacional é complicado acompanhar dados. Ou são inconsistentes ou não existem”, afirma.
A maior parte dos estudos científicos existentes são de alcance geográfico muito limitado e examinam apenas uma ou duas variáveis, mas não as interações entre todas as ameaças. O setor sabe que a situação não vai mudar da noite para o dia. A veterinária portuguesa Ana Afonso, líder da equipe de riscos emergentes da EFSA, resume em uma frase: “Não vai nascer um Google Abelhas no ano que vem, com informação em tempo real”. Mas esse, reconhece, seria seu objetivo ideal.
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