Vamos imaginar que você está viajando em um avião pressurizado, a mais de 8.000 metros. Se a cabine despressuriza, o ar dentro do avião terá a mesma pressão de fora, e você, em questão de minutos, perde a consciência e falece.
No entanto, alpinistas como a Aretha escalam montanhas como o Everest que tem quase a mesma altura de um voo comercial.
Para que isso seja possível, existe um processo chamado de ACLIMATAÇÃO, onde o corpo se adapta ao ar rarefeito.
Em altitudes muito grandes, a quantidade de moléculas de oxigênio, por determinado volume, decai muito, ou seja, o ar é menos denso. Em baixas altitudes, temos carge de 02 em abundância.
Mas, e quando a carga fica escassa? A fábrica não pode parar, portanto ela envia um sinal de que não está chegando carga suficiente. É então que começa a adaptação do corpo à altitude.
RESPIRAÇÃO
Durante a aclimatação, o corpo vai se adaptar a essa menor disponibilidade de O2 permitindo sua exposição à altitude. A principal adaptação que se percebe, ao ganhar altitude, é o aumento da frequência respiratória, tanto em repouso quanto em movimento.
Tem-se a impressão que falta fôlego até para falar. Usando a analogia do trem, se existe menos O2 em cada carga que o trem (nosso sangue) recebe no fornecedor (pulmões), o corpo vai fazer com que o fornecimento trabalhe mais rápido para compensar isso.
Isto é, vai fazer com que seus pulmões trabalhem mais rapidamente para fornecer uma quantidade razoável de O2. E para isso acontecer, vamos respirar mais rápido.
FREQUÊNCIA CARDÍACA
Assim como sua respiração aumenta quando você sobe a altitudes elevadas, o mesmo ocorre com sua pulsação. Isso é percebido principalmente nos primeiros dias em altitude.
Isto é, vai fazer com que o sangue leve mais rapidamente uma quantidade menor de O2.
É uma boa ideia medir seu batimento cardíaco. Você vai perceber que depois de alguns dias, sua pulsação irá novamente diminuir. Isso pode ser um sinal de que seu corpo está aclimatando a essa nova altitude.
SANGUE
Com o aumento de altitude, o sangue fica mais espesso. Esse processo se inicia logo nos primeiros dias em altitude, pois o corpo produz mais hemácias para carregar a quantidade escassa de O2.
Mas isso pode ser um problema, pois seu sangue fica muito espesso.
O sangue espesso pode coagular facilmente. Inatividade, como passar dias dentro da barraca devido a uma tempestade, pode aumentar a probabilidade de formação de um coagulo que pode migrar. Por exemplo, um coágulo formado na perna pode migrar para os pulmões e colocar sua vida em risco.
O movimento do coágulo pode ser uma um problema mais comum do que se pensava anteriormente e pode explicar a repentina e rápida deterioração do estado físico de algumas pessoas em altitude.
Se perceber tal situação, se esforce para sair da barraca e se exercitar.
Para melhorar esse efeito, uma boa hidratação é fundamental.
ALTERAÇÕES NO SONO
A maioria das pessoas em altitude sente alguma dificuldade em dormir. O sono pode ser irregular e alguns podem acordar sem fôlego. Essas alterações são mais comuns em altitudes acima de 4.500m.
Na barraca, você pode ouvir a respiração de seu companheiro aumentando e ficando mais alta, ruidosa. Depois, começa a diminuir gradativamente, até ficar imperceptível e até cessar. De repente, começa a voltar ao ritmo mais forte novamente.
Isto é o que se chama de “respiração periódica”. Muitas vezes, antes de a respiração retomar seu ritmo normal, a pessoa acorda assustada, com uma sensação de asfixia e muita ansiedade. Algumas pessoas chegam a pensar em desistir da escalada, pois realmente se assustam com essas sensações desagradáveis.
Entretanto, a respiração periódica vai diminuindo seus sintomas conforme o corpo se aclimata melhor.
A respiração periódica não acontece com todas as pessoas que se expõem à altitude. Apenas algumas podem sentir seus efeitos. Mas sempre é bom saber que isso pode ocorrer.
COMO ACLIMATAR?
Não existe uma fórmula ideal para a aclimatação, é um processo que varia de pessoa para pessoa e depende da altitude na qual irá se expor.
Para evitar o Mal de Altitude (AMS), uma estratégia bastante usada é aumentar a altitude onde se vai dormir em mais ou menos 300m, a partir da altitude de 3.000m. Enquanto segue o trajeto da escalada ou trekking, o ideal é permanecer duas noites ou três na mesma altitude. Essa é a regra do “climb high, sleep low”, ou escale alto, durma baixo.
Vamos exemplificar: você chega em Namche Bazaar, um vilarejo na região do Everest trek, que está a 3.400m e onde você vai passar a noite. No dia seguinte, seguindo a regra acima, o ideal seria fazer uma caminhada leve pelos arredores do vilarejo, mas ganhando altitude (pelo menos 300m). Quanto mais permanecer nessa altitude mais elevada, melhor.
Em nosso exemplo, o próximo vilarejo é Temboche, a 3.800m. Portanto, nesse dia de caminhada de aclimatação, o ideal seria subir 400m (é a diferença de altitude entre os vilarejos), permanecer lá um tempo (1 hora, se o clima permitir) e depois descer novamente a Namche para passar a segunda noite. No dia seguinte, você segue até Temboche. E assim sucessivamente…
Dessa forma, ao dormir a primeira noite a 3.400m, você deu o tempo necessário ao seu corpo para se adaptar a essa quantidade de O2. No dia seguinte, a estratégia foi subir até 3.800m em sua caminhada de aclimatação. Seu corpo recebeu a informação de que terá ainda menos O2 disponível e começou a se adaptar para essa altitude.
Ao voltar a dormir a 3.400 m (segunda noite em Namche), você deu novamente esse tempo necessário para que seu corpo faça todas as adaptações descritas nos parágrafos anteriores e consiga trabalhar da melhor maneira possível na altitude elevada.
Se você não está se sentindo bem, não siga adiante para dormir em uma altitude maior. É um sinal que seu corpo está enviando a você, que precisa de mais tempo para se adaptar à quantidade de O2 disponível. Vá devagar, principalmente nos primeiros dias em altitude. Curta os lugares mágicos em que você está, sem pressa e sem colocar em risco sua saúde.
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